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SOBRE A DELICADEZA DAS COISAS

2005 - 2015

Par délicatesse jái perdu ma vie

 

Chanson de la plus Haute Tour 

Arthur Rimbaud

Na exposição Sobre a delicadeza das coisas , estão presentes um conjunto de fotografias realizadas por Leonardo Ramadinha, tendo como principal protagonista a poesia de Arthur Rimbaud, intitulada Chanson de la Plus Haute Tour, através da abordagem específica de um verso ali presente: par delicatesse j’ai perdu ma vie. O interesse plástico do artista pela realidade ao seu redor, como um instrumento para produzir significados, uma espécie de cartografia do seu cotidiano, estabeleceu um significativo valor poético a esses trabalhos. Aqui estão presentes cenas exteriores, sobretudo paisagens, investidas de algumas fraturas do instante presente, criando uma espécie de interlúdio lírico com a natureza.

Irradiam um diálogo visual pela ação de seu imaginário, que trazem novas formulações plásticas evocativas, memorialistas e com uma pulsação psíquica que nos contamina por sua intimidade. Ramadinha encontra sua gramática poética no ritmo da vida real e somos tragados pelas sugestivas imagens, por vezes etéreas, evanescentes em um constante estado de devir, processos por vezes inconclusos , fragmentados: formam uma escritura pessoal, como se participássemos também desse encontro privado que se interpenetra nesse território impreciso que singulariza a sua experiência estética, uma cadeia de instantes que se depara com um encontro com objetos fortuitos, em situações cotidianas.

A delicadeza, como principal dispositivo do resgate do universal em suas singularidades, dialoga com a sua captura do jogo ilusório do real, sugere uma pluralidade de significados e pode se apresentar, às vezes, um documento visual tão perturbador, aparentemente aberto a um terceiro sentido e trazer uma nova porosidade para a nossa percepção. Encontramos, na natureza efêmera de suas capturas fotográficas, uma identidade nas incertezas, uma descoberta de ambivalências por onde transita sua força artística. Recupera elementos banais e os traz para um território que anseia por consonâncias.

Instaura, nessa atonalidade do mundo, a sensação de vazio, as ambiguidades, as nebulosidades – as delicadas cenas parecem ser atraídas por esse silêncio, concluindo um sistema de poesia visual. A delicadeza é um oásis, a recuperação de um sonho ou desejo que parecia estar trancafiado. Aqui Ramadinha exercita suas evanescências visuais, que trazem um fraseado particular e fortes sussurros.

Vanda Klabin

Vanda Klabin é formada em Ciências Políticas e Sociais, PUC-Rio e em História da Arte e Arquitetura, UERJ. Pós-graduação em Filosofia e História da Arte, PUC-Rio. Atualmente trabalha como curadora independente. Nasceu, vive e trabalha no Rio de Janeiro.

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