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Leonardo Ramadinha

Last Party - Max Fields entrevista Leonardo Ramadinha

Last Party é um projeto fotográfico desenvolvido a partir de Abril 2000 com uma imersão no universo das festas de música eletrônica que aconteceram no ambiente virtual do Zoom por conta da pandemia de Covid-19.



Max Fields (MF): Gostaria de perguntar como você descobriu essas festas online? Como você se envolveu pela primeira vez?


Leonardo Ramadinha (LR): Foi no início da pandemia de Covid no Brasil. No final de abril. descobri por acaso. Vi uma postagem de um amigo que foi convidado para uma "festa do Zoom". Cliquei no link por curiosidade e fiquei encantada com o que vivi por lá e passei a noite inteira vendo as pessoas se divertindo.


MF: Você pensou em sua participação nessas festas como parte de sua prática de pesquisa?


LR: Não previ que essas partes se tornariam pesquisas para um projeto. Na verdade, a princípio, eu participava das festas para me distrair. Foi na segunda ou terceira festa que percebi o quanto era importante as pessoas não enlouquecerem no período mais difícil da pandemia. Divertir-se era resistir. Foi nesse ponto que entendi que queria documentar isso. Eu precisava fotografar essas pessoas lutando contra talvez o pior medo de suas vidas.


MF: Você pode explicar o título, “Last Party?”


LR: As notícias no Brasil eram terríveis... um presidente que, apesar de centenas de mortes por dia, negava a pandemia, hospitais péssimos, até falta de oxigênio. O sentimento principal foi de insegurança e medo. Estávamos com muito medo. Apesar desse cenário, vi que as pessoas que frequentavam as festas tinham uma atitude de "não sei o que pode acontecer amanhã, então preciso me divertir o máximo que puder, porque essa pode ser minha última festa". No Brasil, existe uma expressão que diz: "fazer festa como se não houvesse amanhã". Eu vi muito isso.



MF: Como essas festas eram organizadas e divulgadas? Quem frequenta esses eventos? Como os DJs se envolvem?


LR: A primeira festa, que deu origem às demais, começou com um grupo de brasileiros produtores de festas e DJs morando em NY. Era para ser um pequeno zoom meeting para conhecer e ouvir música eletrônica. O que aconteceu foi tão mágico que alguns participantes convidaram outras pessoas e assim foi crescendo.


Só depois de algum tempo as festas se oficializaram. Toda sexta e sábado tinha festa. Havia uma rede de colaboradores que faziam o projeto acontecer: designers, VJs, DJs, produtores, etc. Os DJs foram convidados por amigos para participar. Todas as festas foram gratuitas. Depois de alguns meses, havia um código QR disponível que vinculava a uma página de doação criada para brasileiros que moram nos EUA durante a pandemia. Os convites foram divulgados no Instagram e no WhatsApp.


MF: Como eram essas festas? Você pode nos guiar por uma noite típica de festa?


LR: Teve um DJ que tocou a música e foi compartilhada por todo mundo que assistia no Zoom. As pessoas prepararam e produziram seus próprios ambientes de festa em casa: Alguns montaram cenários e fundos, luzes, neons . . . Durante a noite a festa esquentava e as pessoas em casa (quase sempre sozinhas ou em casal) se apresentavam para as webcams. A casa é um lugar seguro!!


Percebi que tudo que existe em uma festa [presencial/AFK] existia lá. Música alta, bebida, gente dançando, sexo, drogas, paquera. Quando a noite era das melhores, a festa de sexta terminava no domingo.


MF: Você já falou com aqueles que estavam presentes? Se sim, como foram essas conversas? Você formou algum vínculo com os participantes?


LR: Sim, conheci algumas pessoas. Eu conheci um ex-aluno em uma festa! Hoje um dos principais DJs do projeto é amigo. Conheço algumas pessoas que foram e ainda são muito ativas nas festas do Zoom.


MF: Qual foi o seu processo para documentar essas festas? Você estava simplesmente coletando capturas de tela ou gravando as festas em vídeo também?


LR: Sempre trabalhei com screenshots. O quadro congelado e o instantâneo sempre me atraíram mais do que o vídeo. Nunca gravei em vídeo.



MF: Como você restringiu as imagens para compor essa série de imagens? Existem imagens que se destacam para você mais do que outras?


LR: A edição deste material tem sido uma tarefa complicada e muito prazerosa. São milhares de fotografias compiladas em pastas que podem provocar leituras muito diversas das imagens. Com essa seleção, tentei fazer um panorama mais amplo dos meus sentimentos sobre as festas. Há algumas imagens que se destacam mais para mim. Aquelas imagens onde as pessoas estão mais livres, mais no espírito da festa! Existem também algumas escolhas que são subjetivas. Amo fotografia com carinho.



MF: Estou curioso para perguntar sobre a função que esses partidos desempenham em relação à vida durante a pandemia. Você acha que essas festas ofereciam uma saída semelhante à balada pessoal, e você acha que essas festas têm um lugar em um mundo onde as pessoas dançam juntas pessoalmente?


LR: Essas festas foram a salvação de muita gente. Foi um momento de resistência. Um momento para acreditar que tudo poderia melhorar. Links foram criados. Para mim, durante a pandemia, nada foi igual. Essas festas eram novas e únicas. Não eram festas antigas traduzidas para o Zoom.

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Essa série foi premiada no Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre 2021 o que gerou Mostra Residência Artística FotoFest Houston - EUA.


Prêmio FestFoto Poa 2021 - Leitura de Portfólio

Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre

Mostra Residência Artística FotoFest Houston - EUA

Last Party - Orientação e curadoria Max Fields & Steven Evans

Dezembro 13, 2021 – Fevereiro 14, 2022



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