LEONARDO RAMADINHA
“…Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua”*
O conceito de impermanência - a variância do mundo, onde nada é permanente ao longo do tempo, onde causas e condições variam constantemente o seu resultado - permeia esta sequência de obras de Leonardo Ramadinha. E é para este conceito que seu registro estético se dirige, e a percepção estrita desta realidade nos leva ao caráter da onisciência, de uma plena atenção que possibilitaria ao seu “praticante” perceber a impermanência do mundo e, desta forma, libertar-se de dogmas, planos formais e estruturas rígidas, apercebendo-se da transitoriedade ininterrupta, paradoxalmente esta a única constante : nada é permanente, a não ser a própria impermanência das coisas.
As imagens duplas, triplas, repetidas, reforçam esta noção - o artista revela algo que aconteceu e que continuamente ocorrerá novamente, mas nunca da mesma forma.
Uma pequena ode ao eterno acontecido, nestes trabalhos Ramadinha ressalta o antagonismo eterno entre o homem e seu meio-ambiente. Enquanto o “Eu” por definição é uma estrutura invariante - que modifica - se ao longo do tempo, mas no curto espaço/tempo se mantém relativamente constante - tudo à sua volta é pura e bela inconstância, e apenas a percepção desta diferença nos colocaria em comunhão com o todo. Não são apenas registros fotográficos de um dado espaço/momento, são histórias silenciosas que exigem tempo e análise, oferecendo ao espectador um contundente repertório de significados, aproximando-o de um passado que não reconhece o seu lugar, por estar sempre presente.
Wair de Paula
*Sophia de Mello Breyner (1919/2004)